Numa hora qualquer .

" (...) Quero tantas coisas . Quero criar , quero voar , quero fugir , quero ficar .

Quero nada . Vivo numa guerra vitalícia com a minha cabeça , e serei valente até o meu último suspiro (...) "

Trecho de um texto que eu escrevi numa tarde qualquer , numa hora qualquer , num dia qualquer ...

Sophia . Capítulo XIX : Interrogação .

Sucumbiu-se a vontade que lhe perseguia desde que o conheceu e passou o resto da festa ao seu lado , sentada no degrau da varanda , admirando a Lua e sorrindo à toa .

Volta e meia pessoas passavam por eles , mas nada que atrapalhasse a total sintonia dos dois . Sintonia essa que por vezes pareceu telepatia , quando um iria falar algo e outro falava o mesmo antes .

Esqueceu a hora , esqueceu a festa ; A conversa e a presença de Gian ali fizeram com que aquelas horas se tornassem indescritíveis .

Só foram realmente interrompidos quando seu celular tocou , e ao ouvir seu pai perguntar onde estava , olhou para o relógio e se assustou ao perceber que os ponteiros marcavam duas e meia da manhã .

- Não Pai , não precisa me buscar não ... Tá bom , tá bom , eu espero na porta então .

Desligou o celular fatalmente chateada e olhou para Gian , que como sempre , sorria .

- É , tenho que ir .

Disse , levantando-se .

Gian fez o mesmo , e ao ficar frente a frente com Sophia a abraçou , dando-lhe um leve beijo no pescoço , suficiente para arrepiar até o seu último fio de cabelo .

Com os rostos colados , disse baixinho , dentro do seu ouvido :

- Amei a noite , de verdade .

Sophia suspirou lentamente , e como quem diz " Eu também " o abraçou com todas as forças e em " troca " ganhou um demorado beijo de despedida .

Não ligou muito para as reclamações do seu Pai no carro , chegou em casa , tomou um banho bem quente e deitou embaixo das suas cobertas .

Mesmo que já tivesse passado das três da manhã , ela não conseguia pregar os olhos por mais de cinco segundos .

Olhava para o seu teto de madeira e só conseguia enxergar uma coisa , uma pessoa , Gian .

Forçava suas lembraças para chegar no momento exato do primeiro beijo , mas não conseguia , como um sonho , que por muitas vezes ela não lembrava .

Ali , sozinha , em silêncio , conseguia pensar direito no que havia acabado de acontecer . O garoto pelo qual ela ficou encantada , acabara de beijá-la , algo que nem em uma das suas mais otimistas imaginações aconteceu .

Estava teoricamente tudo ótimo . Não , não estava . Algo a intrigava , sua insegurança contínua a aterrorizara novamente .

Era como se alguém sempre colocasse um ponto de interrogação em cima do seu ponto de exclamação .

Tinha medo , não exatamente de " que " ou de " alguém " , mas tinha .

Não havia se adaptado completamente ao seu novo colégio , afinal , só havia se passado uma semana . Ainda terá um ano pela frente , não sabia se estava preparada para aguentar um caso assim , tão prematuro .

Mas , todas essas perguntas não adiantariam de nada se Gian não quisesse nada de mais . " Mas se ele quiser e eu não ? " " E se eu quiser e ele não ? " , as perguntas dominavam por completo sua cabeça . Por diversas vezes sentiu raiva de sua insegurança e desejou bastante sumir com seu medo , mas como já previa , tudo continuou igual .

Se esforçou para dormir , fechou os olhos , cessando por um tempo o grande ponto de interrogação que havia sido deixado em sua cabeça .

Sophia . Capítulo XVIII : Doce Inesperado .

Se sentiu completamente atordoada , perdida , não se sentia ali .

Estava quente , tão quente que por um momento pensou que iria pegar fogo , mas , se pegasse , chama nenhuma seria capaz de transmitir e expressar as riquezas de sentimentos que afloraram dentro dela .

Percebeu um leve toque em sua cintura , e logo em seguida o colar dos corpos a fez se esquentar mais ainda .

O beijo terminara e Sophia abriu os olhos lentamente , como se tivesse medo que aquele lindo sonho acabasse .

Pelo contrário , o verdadeiro sonho estava ali , na sua frente , sorrindo , parecendo ter diamantes em seus olhos , pelo tamanho do brilho que havia neles . Brilho esse que Sophia nunca imaginara ver assim tão de perto .

Demorou um pouco para Sophia perceber onde estava , e assim que percebeu , se desmanchou de vergonha , vendo a maioria de pessoas com os olhares voltados para ela .

Reparou Vivian , perto da porta , sorrindo como quem diz " Até que enfim " , e não tão longe dela , um grupo de garotas chamou sua atenção , percebeu ali Lyz , como sempre com aquele ar de quem se acha deveras superior .

Sophia já havia reparado diversas vezes no colégio os olhares fulminantes de Lyz , mas dessa vez era diferente , era com inveja , era com ódio .

- Bem ... Desculpe se fui tomado pela vontade .

Sophia não acreditou que ele houvesse pedido desculpas por algo que a fez espantosamente tão bem .

- Não ... tudo bem .

Ele sorriu , e Sophia , como se fosse automático , sorriu junto .

- Então , te surpreendi ?

- Pode acreditar que sim !

- E isso é bom ?

- Pode acreditar , ainda mais , que sim !

Sophia não estava se sentindo completamente envergonhada pois conseguia enxergar Gian um pouco mais nervoso e envergonhado do que ela .

- Vamos lá pra fora ?

Perguntou ele , parecendo temer um pouco a resposta .

- Vamos sim .

Gian virou-se e andou até uma porta , nos fundos da cozinha , seguido por Sophia .

Saíram e se viram um lugar completamente mais vazio do que a parte de dentro da casa .

- Senta aqui ó .

Disse Gian , sentando no degrauzinho da varanda .

Sophia sentou-se ao seu lado , e dali , conseguia enxergar a Lua com rara perfeição .

- É linda , não é ?

Comentou Gian , olhando para cima encantado .

- Linda mesmo .

Gian olhou repetidamente para Sophia e sorriu , em silêncio , durante uns cinco minutos .

- Não tão linda como você .

Sophia corou por completo , e não teve tempo de pensar em resposta , quando percebeu , Gian já estava com seus lábios nos dela .

E assim , não quis pensar em resposta , não quis pensar em mais nada , só quis ficar ali , pelo resto da noite , deixando-se pegar fogo novamente .